ARTIGO

O corpo escuta tudo: como a vida moderna tem falado alto demais

Por Rogério Cardoso |
| Tempo de leitura: 3 min

Imagine poder evitar quase metade dos casos de câncer com escolhas simples, diárias, feitas na cozinha, no mercado, no trajeto a pé ou ao sol. Parece ousado dizer isso  mas não é esperança vazia, é ciência. Um estudo publicado no periódico A Cancer Journal for Clinicians, da American Cancer Society, mostrou que cerca de 42% dos cânceres em adultos nos EUA são potencialmente evitáveis ao se reduzirem fatores de risco como alimentação inadequada, sedentarismo, tabagismo e consumo de álcool. E esse dado é uma convocação à vida.

Trabalhar com pessoas que envelhecem é como escutar o corpo humano contar histórias em forma de mudanças. Mas também é testemunhar, todos os dias, como o cuidado pode ser mais poderoso que o medo. Vejo isso o tempo todo. E esse cuidado começa pelo que colocamos no prato. Dietas ricas em frutas, vegetais, grãos integrais e leguminosas têm efeitos protetores sobre o DNA, reduzem inflamações crônicas e fortalecem o microbioma intestinal, essencial para prevenir o câncer de cólon.

Já as carnes processadas e vermelhas, especialmente grelhadas em altas temperaturas, estão associadas a um risco maior de câncer colorretal. A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer classificou as carnes processadas como carcinogênicas para humanos a mesma categoria do tabaco. Tudo bem, tem gente que não acredita... mas é um dado científico. E os ultraprocessados? Ricos em aditivos, açúcares, gorduras ruins e ingredientes que não reconheceríamos nem na linguagem da natureza, eles são combustível para estados inflamatórios silenciosos.

O corpo também escuta o que fazemos com ele sob o sol. Usar filtro solar diariamente, evitar bronzeamentos artificiais e proteger a pele com roupas são gestos pequenos que, somados ao longo dos anos, evitam a mutação cumulativa que dá origem aos cânceres de pele, como o melanoma.

E há ainda o álcool, um velho conhecido. Mesmo em doses baixas, ele aumenta o risco de vários tipos de câncer, especialmente de mama. Estudos apontam que não existe uma dose segura: o melhor é reduzir ou evitar.

Mas você pode estar pensando: “Professor, você já falou do vinho antes...” Tudo bem,  eu também tomo minha taça, e acredito que o equilíbrio é o melhor caminho. Mas no caso do cigarro, não tem negociação: é preciso evitar a qualquer custo. Parar de fumar, mesmo depois de anos, reduz drasticamente o risco. O corpo, quando cuidado, é capaz de esquecer os danos  ou pelo menos perdoá-los um pouco.

Outros os? Verifique se você está vacinado contra HPV e hepatite B vírus ligados a cânceres como o de colo do útero e fígado, respectivamente. E, se ou dos 45, por favor: agende sua colonoscopia.

Aliás, acho que está chegando minha vez... meu médico, que lê esta coluna, deve me chamar para uma conversa em breve... A colonoscopia pode literalmente impedir que o câncer comece, removendo pólipos antes que virem tumores.

Por fim, movimente-se. A atividade física regular reduz o risco de pelo menos 13 tipos de câncer. E manter um peso saudável não é vaidade, é prevenção. A obesidade aumenta o risco por mecanismos metabólicos complexos, como resistência à insulina, inflamação e disfunções hormonais. E a boa notícia?

Mesmo uma perda de peso modesta já faz diferença.

Cuidar-se é um ato radical de presença. Não é paranoia, é escolha. É responder ao chamado da ciência com delicadeza, com lucidez e, acima de tudo, com amor. Porque o câncer, quando chega, muda tudo.

Mas muita coisa pode ser feita antes que ele sequer bata à porta.

Ouvi isso diariamente, por anos, nas palestras que dava na Associação Ilumina, que iluminou tantas vidas aqui em Piracicaba. Cuide-se. E até a próxima.

Rogério Cardoso é personal trainer e preparador físico, membro da Sociedade Brasileira de Personal Trainer SBPT e da World Top Trainers WTTC.

Comentários

Comentários