ARTIGO

Um rio em nossas vidas

Por Cecílio Elias Netto |
| Tempo de leitura: 3 min

Perdoem-me, perdoem-me. É o que, antecipadamente, rogo. Mas, a familiares, amigos, parentes, conhecidos – até a pessoas com relações menos próximas – este mais do que octogenário jornalista sente-se devedor de explicação. Perguntam-me, eles, com cuidados que me comovem: “Por que, com essa idade, envolver-se em tal conflito, em tanta polêmica?” A resposta é até mesmo simplória: por Piracicaba, por indignação, por nossa riqueza espiritual e histórica; pelo rio, que é nossa pia batismal.

Permito-me, por isso, reportar-me a dois livros nos quais – talvez, mais do que nas três dezenas de outros – deixei-me conduzir apenas por alma e coração. Neles, estão, também, recolhidos sentimentos, emoções, amor de muitos apaixonados por esta abençoada terra. Os livros: “Piracicaba – um rio que ou em nossa vida” e “Rua do Porto – pia batismal de um povo”.

Esperando a compreensão de minha gente, divulgo alguns trechos:

“O rio não é de todos, mas de cada um. É como o amor, diferente para cada pessoa que ama.”

“Nestas margens e nestas águas, está o sagrado da terra. É a pia batismal de um povo, lugar de ofertório e de render graças. Aqui, Piracicaba renasce, jardim à beira rio plantado.”

“O Tejo não é o rio que corre em minha aldeia. E também não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia. O rio que corre pela minha aldeia é o Piracicaba.”  (Referência a poema de Fernando Pessoa.)

“O rio Piracicaba é o nosso rio sagrado, de origem divina. Um sacramento de vida que nos acompanha a existência do começo ao fim: batismo, confirmação, confissão, eucaristia, ordem, matrimônio, unção dos enfermos. Mas, também, onde vivemos os pecados humanos de todo o dia.”

“... quase extasiado de belezas antigas e renovadas, procuro, à esquerda, a maternal árvore do Largo dos Pescadores. À sua sombra, as pessoas descansavam, pescadores teciam redes e tarrafas, tomando cachaça e contando mentiras.”

Arlindo Stefani, antropólogo cultural: “O índio veio aonde o peixe para. O industrial veio aonde o peixe pula. Nós vamos aonde o rio espera. O peixe criou o índio, o salto criou o industrial, o rio, conosco, cria Piracicaba.”

Arnaldo Branco Filho (B2 Comunicação): “E eu que – em minhas andanças pelo mundo – havia ficado estático, em várias oportunidades, diante das belezas e encantos de rios como o Sena (Danúbio, Tevere, Arno, Douro, Tejo, Reno e outros) agora me rendo – de corpo e alma – ao Rio Piracicaba, ao Salto, ao Mirante, à Rua do Porto, onde, costumeiramente, degustamos peixes e o melhor cuscuz do mundo.”

Rubens Ometto Silveira Mello (Grupo Cosan): “Meu pai costumava nadar e pescar no Rio Piracicaba nos anos 1930. Eu guardo a lembrança dos eios pela rua do Porto como momentos de muita felicidade da minha infância e juventude.”

Odair Renosto (então presidente da Caterpillar do Brasil): “Todos os piracicabanos e aqueles que, como eu, se consideram piracicabanos, também param (referência aos peixes) para apreciar a beleza de um rio que está intimamente ligado à história e ao desenvolvimento da cidade.”

Archimedes Dutra, imortal artista plástico, “in memoriam”: “É de acreditar que o Paraíso se encontrasse aqui, na Piracicaba escondida por trás do tempo, obra prima concebida e plasmada, em momento de alto inspiração, pelo Criador Divino de todas as coisas.”

E mais e mais. E tanto e tanto que não haverá – mesmo tentando e por mais rico seja – quem consiga ocultar essa beleza “tão antiga e tão nova”, como diria Agostinho de Hipona.

Que tenha sido, esta, uma pequenina das muitas motivações.

Cecílio Elias Netto é jornalista e escritor.

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