
Segundo o IPS Brasil (Índice de Progresso Social), Jundiaí ficou em terceiro lugar no ranking nacional de 2025, com nota 70,7 em uma escala que vai até 100. O município ficou atrás de Gavião Peixoto (SP), com 73,26, e Gabriel Monteiro (SP), com 71,29. O índice avalia a capacidade das cidades de atenderem às necessidades da população, com base em critérios sociais e ambientais.
O IPS é dividido em categorias como Necessidades Humanas Básicas, Fundamentos do Bem-Estar e Oportunidades, que abrangem temas como água e saneamento, o à informação, liberdades individuais, moradia, saúde, inclusão social, segurança, qualidade ambiental, o à educação superior entre outros. Neste último critério, Jundiaí se destacou com todas as subcategorias avaliadas como fortes que são: empregados com ensino superior, mulheres com ensino superior empregadas e nota mediana do Enem.
Jundiaí teve quatro pontos que foram considerados fracos. São eles: inclusão social em famílias em situação de rua (esse tópico, aliás, não foi avaliado como forte em nenhum dos municípios), moradia na parte de domicílio com iluminação elétrica adequada e segurança pessoal, nos indicadores de homicídios e mortes por acidentes de transporte.
"Jundiaí realmente é uma boa cidade para se viver, uma cidade compacta, que proporciona facilidades de locomoção para comércio e indústria. Temos um centro logístico muito bom e saídas pelas rodovias Anhanguera e Bandeirantes que facilitam muito", afirma o morador Eduardo dos Santos. Ele ressalta, no entanto, que o trânsito se tornou um dos principais desafios urbanos: "O trânsito realmente tem ficado caótico, principalmente nos horários de pico. Acho que merece uma revisão na estrutura urbana, com mais avenidas e melhorias nos gargalos."
A moradora Letícia Miyazaki, que vive em Jundiaí há 44 anos, concorda que a cidade oferece boa qualidade de vida, mas acredita que o crescimento trouxe novos problemas. "Tem muito a melhorar, mas continua sendo acolhedora, com boas oportunidades. É uma cidade do interior com jeitinho e problemas de cidade grande".
A arquiteta e urbanista Tatiana Domingos pondera que os dados do IPS têm limitações: "Os dados que compõem esse índice são, em grande parte, fornecidos pelos próprios municípios. Isso pode ocultar desigualdades internas e problemas estruturais." Para ela, mesmo com um histórico de planejamento urbano relativamente organizado, Jundiaí enfrenta pressões do mercado imobiliário e dificuldades em promover uma mobilidade mais sustentável. "A tentativa de criar uma rua compartilhada na Vila Arens, que foi cancelada após pressão de comerciantes, é um exemplo da dificuldade em romper com o modelo centrado no carro." Tatiana também alerta que o modelo de crescimento acelerado exige atenção constante: "O crescimento descentralizado impõe desafios crescentes, especialmente na expansão da infraestrutura e dos serviços públicos nas regiões mais periféricas."
A socióloga Carolina Guida também destaca que embora Jundiaí tenha bons indicadores no IPS, é preciso olhar com cautela para os dados. “Boas condições em determinadas categorias muitas vezes ocultam deficiências graves em outras. Jundiaí é uma cidade com custo de vida elevado, o que frequentemente torna o o aos seus recursos urbanos limitado para populações de menor renda ou em situação de vulnerabilidade.” Segundo ela, há uma certa capilaridade dos equipamentos públicos voltados ao esporte e lazer ao longo do município, o que contribui para sua homogeneidade territorial, mas a ibilidade urbana precisa ser entendida em suas múltiplas dimensões. Ela alerta que índices como o IPS tendem a homogeneizar resultados e nem sempre refletem a complexidade social do território. Além disso, observa que o crescimento recente tem produzido um tecido urbano fragmentado, com bairros mais próximos de outras cidades do que do centro de Jundiaí, o que exige revisão das políticas fundiárias e maior incentivo à ocupação dos terrenos ociosos da região central.
A professora de educação física Ariele Vieira Souza aponta que o o à saúde é um dos pontos positivos, mas acredita que o transporte público precisa melhorar. "Os ônibus demoram muito, principalmente nos bairros mais distantes. Isso dificulta para quem depende deles para trabalhar." Ela também considera que a cidade tem boa infraestrutura e uma sensação de segurança razoável, além de valorizar a proximidade com a natureza. "A cidade é limpa, tem muitos parques e áreas verdes, e oferece uma sensação de segurança que é difícil encontrar em cidades maiores. A desigualdade entre regiões, porém, ainda incomoda. Há bairros com ótima estrutura e outros que parecem esquecidos pelo poder público", opina a moradora.
Ela reconhece avanços em áreas como saúde e educação, com novos investimentos e iniciativas culturais mais frequentes, mas cobra mais participação popular. "Sinto que há alguns canais de participação, como audiências públicas e conselhos municipais, mas muitas decisões importantes ainda parecem distantes da população. Falta uma escuta mais ativa e diálogo mais transparente com os moradores", desabafa.
A psicóloga Diane de Paula, que se mudou de São Paulo para Jundiaí há pouco mais de dois anos, relata uma experiência positiva com a mudança. "Eu sou apaixonada por essa cidade. Deveria ter vindo muito antes. Tudo é perto, o trânsito é ável comparado a São Paulo, e a sensação de segurança é muito maior." Ainda assim, ela vê limitações nos serviços públicos. "Acho a prestação de serviços muito aquém do que estava acostumada. Me preocupa se as políticas públicas estão preparadas para esse êxodo das grandes cidades para cá." Ela cita um episódio recente no bairro onde mora: "Houve contaminação na água e até o vereador apareceu, fez vídeo explicativo. Achei que ele está atento e próximo. Esperamos que melhorem sempre!"
Neide Puttini Bueno, de 77 anos, também compartilha sua visão sobre viver em Jundiaí: "Eu cresci em Jundiaí, eu vim para cá desde pequena e eu acho que é uma cidade muito boa. Aqui eu cresci, casei, criei meus filhos, aqui tem boas escolas, temos lugar para as crianças se divertirem também, porque agora já tenho netos". Ela complementa que gosta da infraestrutura e dos serviços da cidade como supermercados, shoppings, hospitais e opções de lazer. "Eu não nasci aqui, mas eu sou jundiaiense de coração, gosto demais de Jundiaí. Meu coração é jundiaiense", afirma.
Neide Puttini Bueno e Eduardo dos Santos
A arquiteta Flávia Tarricone destaca que Jundiaí investe em arquitetura pública de qualidade e avançou no ordenamento urbano após a revisão do Plano Diretor em 2019. "Jundiaí tem apresentado avanços no ordenamento do território, especialmente a partir da revisão do Plano Diretor em 2019, que segue os princípios estabelecidos pelo Estatuto da Cidade." Segundo ela, há preocupação com áreas ambientais, controle da expansão desordenada e incentivo ao adensamento nos eixos de mobilidade. "Esses locais oferecem infraestrutura adequada, ibilidade, segurança e áreas voltadas ao lazer, cultura e esportes."
Em nota, a Prefeitura de Jundiaí afirmou que mantém políticas públicas integradas para enfrentar questões como a inclusão social, segurança e moradia. Sobre a população em situação de rua, destacou que "o município adota uma política articulada de assistência social para o acolhimento e atendimento da população em situação de rua", com ações que incluem o Centro POP, abrigos e a Operação Noites Frias. Em relação à segurança, a Prefeitura enfatizou que, "pelo terceiro mês consecutivo, Jundiaí registrou os menores índices de roubo desde o início da série histórica". No campo da moradia, foi citado o programa estadual "Viver Melhor", que "já promoveu melhorias em 225 das 400 moradias cadastradas em situação de vulnerabilidade na cidade", com foco na segurança e na qualidade de vida das famílias.
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