09 de junho de 2025
ENTREVISTA DA SEMANA

Ana Clara Falconi: beleza de Bauru nas arelas internacionais 5f2f1q

Por Guilherme Matos |da Redação
| Tempo de leitura: 5 min
Cássia Peres/JC
Ana Clara Falconi tem 23 anos e já conheceu 11 países

Foi por insistência de um amigo que Ana Clara Falconi, ainda adolescente, decidiu participar de mais um projeto itinerante que veio a Bauru buscar modelos talentosas para desfilar nas arelas. Ela já havia participado de outras iniciativas como aquela ao longo dos anos, mas sempre esbarrava na questão financeira. Normalmente, as primeiras fases são gratuitas e abertas. Para prosseguir, porém, é preciso investir em viagens, hospedagens e fotografias para só então sonhar com a contratação em uma agência. 6f253

Por conta dos seguidos "nãos" que recebeu, Ana Clara já considerava desistir do sonho cultivado desde a infância. No entanto, após a persistência do amigo, aceitou dar mais uma chance. Foi, então, descoberta por Zeca Barreto, um gestor de carreira artística muito conhecido no meio, que deu a ela a oportunidade de continuar com o processo seletivo sem desembolsar qualquer valor.

Essa atitude permitiu que a jovem bauruense, moradora do Geisel, iniciasse sua carreira de modelo que chegou às mais importantes arelas e marcas internacionais. Ana Clara, hoje com 23 anos, já viajou por 11 países e desfilou em alguns dos mais importantes eventos da moda, como a Paris Fashion Week. Já foi modelo para as grifes de luxo mais famosas do mundo, como Chanel, Saint Laurent, Celine, Gucci, Bottega Veneta e outras.

No Brasil, a lista é ainda mais extensa e inclui as marcas: Melissa, Schutz, Farm, Arezzo e muitas outras. No âmbito pessoal, a carreira a permitiu conhecer alguns ídolos, como é o caso da premiada atriz Fernanda Torres. Em entrevista ao JC, Ana narrou sua trajetória, os "perrengues" da indústria da moda e deixou conselhos para as meninas que se interessam pela área.

JC - Como foi a sua infância em Bauru? Tem alguma memória especial dessa época?

Ana - Minha vida inteira foi ada ali no Geisel, minha família toda, que gosta muito de coisas artísticas toda, mora aqui. Desde os cinco anos, sempre gostei dessa área, do teatro, e estudei no Sesi, que também incentivava bastante a parte cultural. ei a infância brincando na rua, subindo em árvore, jogando bola. Era uma menina bem moleque.

JC - De onde veio o interesse pela moda?

Ana - Desde pequena eu assistia aos desfiles da Victoria's Secret na TV e ficava fascinada. Com cinco anos, fui parada em shoppings de Bauru por pessoas de agências dizendo que eu deveria ser modelo. A partir daí virou meu sonho. Eu falava na escola que queria ser modelo, mas como minha mãe não tinha como pagar o book, acabei indo mais para o teatro, que era incentivado na escola.

JC - Como você foi descoberta?

Ana - Sempre participei de projetos como o arela, que vinham para Bauru. A primeira fase era gratuita, mas depois precisava pagar. Um dia, quase desisti, mas um amigo insistiu e fui. Conheci o Zeca Barreto. Ele falou que eu era linda e me convidou para a segunda fase sem pagar. Depois, me chamou para ir para Curitiba, onde tive meu primeiro contato com agências de São Paulo. Treinei na arela e fiz várias fotos.

JC - Quando você sentiu que sua carreira realmente começou?

Ana - Foi quando fechei contrato com minha primeira agência em São Paulo. Tinha 18 anos, usava aparelho ainda. Fiz casting para uma agência internacional e também para o São Paulo Fashion Week. Peguei meu primeiro desfile com a Fabiana Milazzo e logo em seguida fiz uma matéria para a Vogue de joias. Foi aí que senti: "agora começou".

JC - Como foi essa fase?

Ana - Não sabia nem desfilar. Fiquei muito nervosa, porque o sapato era difícil, sem amarração, e tinha plantas no meio da arela. Não foi a minha melhor performance, mas fiquei muito feliz.

JC - Quando foi a sua primeira viagem internacional?

Ana - Depois de com uma agência, em janeiro de 2020, me mandaram para a Coreia do Sul, porque eu não tinha experiência. Não sabia inglês, não sabia me portar, nem posar. Foi muito difícil, o frio era de -13ºC e eu só tinha um moletom. Comia arroz com milho porque não sabia comprar as coisas.

JC - Como foi sua adaptação?

Ana - Difícil. Morei num apartamento minúsculo com mais cinco modelos de vários países. Fiquei sozinha, sem falar a língua, com 12 horas de fuso horário em relação ao Brasil. Mas fui treinando poses e arela com um gerente da agência que nos ajudava fora do expediente. Depois de um mês, já estava desfilando e trabalhando muito. Acabei ficando seis meses, trabalhei praticamente todos os dias. Voltei para o Brasil em agosto de 2020 por causa da pandemia. Em fevereiro de 2021, voltei para a Coreia, onde trabalhei mais seis meses. Depois disso, minha agência disse que era hora de ir para a Europa.

JC - Onde foi sua estreia na Europa?

Ana - Fui para Londres em agosto de 2021, fiz quarentena e depois segui para Paris. Meu primeiro desfile internacional foi para Saint Laurent, na Paris Fashion Week, em setembro de 2021.

JC - Como foi esse desfile?

Ana - Incrível e assustador ao mesmo tempo. Mais de 3 mil meninas disputando, e só 50 ou 60 são escolhidas. O salto que usei tinha plataforma de 8 cm e salto agulha, muito difícil de andar. A arela ainda estava molhada. Ensaiamos antes, uma menina caiu e foi cortada do desfile. Eu consegui, mesmo tremendo por dentro.

JC - Quais são as maiores lições que a carreira ensinou?

Ana - Persistência e paciência. Recebi muitos "nãos", mas aprendi que tudo tem seu tempo. É importante cuidar da saúde física e mental. Não basta ser bonita, tem que ter preparo, confiança e estar bem consigo mesma.

JC - Como lida com a pressão do mercado?

Ana - Faço terapia, meditação, pratico hobbies como desenhar e pintar. É essencial cuidar da mente, porque se você não estiver bem, isso transparece no trabalho.

JC - Que conselho deixa para quem quer seguir na moda?

Ana - Pratique, estude poses, cuide do corpo e da saúde mental. Não desista diante dos "nãos" e esteja sempre preparada.